Ensinando a Transgredir : a Educação Como Prática da Liberdade | bell hooks

O livro “Ensinando a transgredir: A educação como prática da liberdade” é uma coletânea de artigos da bell hooks que discorrem sobre a educação. Com 14 capítulos, ela aborda sobre diferentes aspectos do que ela compreende por “pedagogia engajada”. Segundo ela, esta proposta iria além de uma pedagogia crítica e feminista. A escrita de bell hooks é acessível a todos os públicos e ela intercala em discussões teóricas da prática pedagógica com exemplos da experiência vivida nos seus mais de 20 anos lecionando. É engraçado perceber que a “grande” bell hooks começou a carreira sem querer ser professora, com medo de perder o controle na sala de aula. Cada experiência desses anos serviu para que ela refletisse sobre como a educação poderia servir como uma prática para a liberdade. São reflexões que estão muito vivas ainda hoje na academia e na nossa vida como estudantes e professoras.

Pedagogia engajada

“[…] ela dá ênfase ao bem-estar. Isso significa que os professores devem ter o compromisso ativo com um processo de autoatualização  que promova seu próprio bem-estar. Só assim poderão ensinar de modo a fortalecer e capacitar os alunos.

A pedagogia engajada se preocupa com o bem-estar de todos e todas que participam do processo de ensino-aprendizagem. Cabe aos professores reconhecer que cada estudante é singular e por isso cultivar uma relação de reconhecimento de cada um/a como sujeito/a. No desenvolvimento do que bell hooks entende como pedagogia engajada, ela confronta a divisão que existe entre mente e corpo no Ocidente. Especialmente na vida acadêmica, vemos sempre a mente como se o corpo não fizesse parte do processo de escrita, publicação e aprendizagem. A autora chama a atenção que precisamos da cisão dos dois, corpo e mente, para que nos tornemos sujeitas/os do nosso aprender. 

Paulo Freire

Quem está acostumada a ler bell hooks sabe que ela é uma grande discípula de Paulo Freire. Como ela adverte no início, o livro tem muitas referências a ele. Inclusive há um capítulo que é uma entrevista, na qual ela comenta como ele influenciou na sua trajetória. Além das discussões teóricas, ela fala muito do medo que ela tinha de se decepcionar ao conhecê-lo pessoalmente, porque como sabemos, nem sempre a pessoa é coerente com que escreve. Ela comenta sobre o encontro deles e também sobre as críticas que muitas feministas fizeram ao trabalho de Freire.

Experiência x teoria

Há um capítulo dedicado às discussões sobre o que tem mais relevância: debate acadêmico ou a experiência? Especialmente na academia, vemos que esse debate existe num lugar no qual somente os marginalizados usariam a experiência como essencial. Além disso, ela pontua que muitos professores acadêmicos privilegiados usavam dessa acusação para silenciamento de estudantes em situação de subalternidade. bell discute com exemplos do cotidiano nos movimentos sociais que pressionam ao afirmar que as teorias de nada servem para mudança, de fato, das situações de opressão.

“Quando uso a expressão ‘paixão da experiência’, ela engloba muitos sentimentos, mas particularmente o sofrimento, pois existe um conhecimento particular que vem do sofrimento.” 

Sobre o feminismo e as mulheres brancas

Em alguns capítulos, bell discute sobre a possibilidade de irmandade entre as mulheres negras e brancas nos Estados Unidos. Ela faz uma discussão sobre aquela velha relação entre ambas: “quase da família”, na qual a negra é empregada de uma família branca é quase da família, mas sofre todo o tipo de exploração, inclusive a sexual. O pior da constatação de bell é que ao final da segregação e aos avanços das disciplinas de Estudos de Mulheres, as mudanças foram poucas. Ela afirma isso porque muitas mulheres brancas se apropriaram das discussões de raça para ganhar reconhecimento acadêmico e ocupar um espaço que poderia (e deveria) ser da mulher negra. Nesse ponto, ela nos alerta que, quando deixamos de questionar essas mulheres que fazem isso, nos tornamos cúmplices de maneira diferente. Para bell hooks, “bater em retirada não é a solução”.

O erótico no aprendizado

Desde a introdução, bell hooks adverte que a sala de aula não deve ser lugar de tédio. O processo de aprender tem que ser gostoso e desafiador. Ao final do livro, ela dedica um capítulo sobre o erótico, no que ela compreende como pedagogia engajada. Para mantermos engajadas com o processo de ensino-aprendizado, temos de sentir o poder desse desejo em nós. 

“[…] a força motriz que impulsionava todas as formas de vida de um estado de mera potencialidade, para um estado de existência real.”

Neste capítulo, ela elenca algumas cartas que recebeu ao longo dos 20 anos como educadora nas mais diversas instituições. Para finalizar, deixarei uma das últimas passagens do livro:

“A academia não é o paraíso. Mas o aprendizado é um lugar onde o paraíso pode ser criado. A sala de aula, com todas as suas limitações, continua sendo um ambiente de possibilidade.”


Informações do Livro:
Nome: Ensinando a Transgredir: a educação como prática da liberdade
Autora: bell hooks
Editora: WWF Martins Fonte
Número de Páginas:275
Ano: 2019
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Negras Escrituras

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