No livro Pensamento Feminista Negro, da Patricia Hill Collins, é discutido sobre o lugar social da mulher negra em diversas áreas da sociedade. Durante o livro, a autora nos ensina a aprender com outsider within (forasteira de dentro), lugar social ocupado por mulheres negras quando elas são aceitas a partir de algumas condições.
Um exemplo básico dessa categoria é a empregada doméstica que é “quase da família”, mas não tem os mínimos direitos trabalhistas garantidos.
Quando falo da vida acadêmica e que devemos aprender com outsider within, digo que nós, acadêmicas negras, devemos ocupar estrategicamente este lugar. Ingressamos em cursos de graduação, mestrado e doutorado, mas nossas intelectuais ainda não estão nas bibliografias, e se olhamos ao nosso redor, encontraremos poucas mulheres negras. Sobre nossas pesquisas, pesa a combinação de não pertencermos à branquitude e nem à masculinidade que moldam a academia. Por conta disso, Patricia argumenta que este lugar de marginalidade proporciona uma visão específica sobre as matrizes de opressão.
Aprender com outsider within significa que nós, mulheres negras e marginalizadas na academia, precisamos reconhecer todas as estruturas de dominação que interferem no nosso processo de aprendizado, pesquisa e reconhecimento do nosso trabalho para rompermos com essas lógicas.
Em certos momentos, precisamos jogar conforme o jogo! Se no seu programa certos autores são cânones, use-os para reconhecimento por parte de quem está no poder, mas sempre que puder, insira nossas intelectuais negras.
Inclusive, deixo o alerta feito pela própria autora: eles, os grupos dominantes, incluirão alguns outsiders “seguros”, aqueles que não irão questionar as estruturas de poder ou mesmo continuar a reproduzir tais estruturas na hora de validar o conhecimento.
Seja como for, nos cabe o dilema que vem desde nossas antepassadas: precisamos ser duas vezes melhores que os sujeitos brancos na academia. Precisamos nos esforçar para dialogar com intelectuais negras invisibilidades sem perder de vista o que a academia eurocêntrica, na qual estamos inseridas, valida como conhecimento.
É um trabalho árduo e cansativo, porque vira e mexe ouvimos professores medíocres usarem seus teóricos de estimação sem o mínimo de esforço para ampliar o seu conhecimento. Enquanto isso, nós, mulheres negras, nos debruçamos noite e dia para dar conta dos cânones e da complexidade do pensamento dos/das intelectuais negros/negras.
Para continuarmos avançando os passos que nossas ancestrais deram, precisamos utilizar o conceito de “maternagem da mente”, que também está no livro Pensamento feminista Negro e se refere a proporcionar o suporte físico e mental a outras mulheres negras que pretendem ingressar ou já estão no mundo acadêmico.
É o que Angela Davis (2016, p. 20) já dizia: “Precisamos aprender a erguer-nos [umas às outras] enquanto subimos.” Aprender com outsider within é usar desse lugar marginal para produzir outras formas de saber e trazer mais mulheres negras para esse diálogo direto com a academia. Isso já aprendemos com nossas ancestrais: precisamos nos aquilombar para resistirmos às opressões que nos atravessam.
Aqui no Negras Escrituras, você encontra esse diálogo entre a academia e meu cotidiano porque meu saber é construído a partir da minha experiência