Você já participou de alguma leitura coletiva? Eu nunca tinha participado até 2020. Esse ano totalmente anormal que vivemos me fez conectar com mais pessoas pelo Instagram do Negras Escrituras. Foi com esse objetivo que propus em maio deste ano duas leituras coletivas (bem louca achando que ia dar conta de tudo). A primeira seria Sociologia do Negro Brasileiro, do Clóvis Moura, e a segunda Pensamento Feminista Negro, da Patricia Hill Collins. Para ambas, fiz um cronograma de leitura com dois capítulos por semana, mas falhei totalmente na primeira proposta por inexperiência e falta de tempo. Já a leitura de Pensamento Feminista Negro fluiu de um jeito que eu nunca imaginei (em outro post falo mais sobre isso): conseguimos ler um capítulo por semana com encontros por uma plataforma online.
Outra experiência de leitura coletiva que participei neste ano foi uma que organizei juntamente com a Gabi, do Leia Preta, e a Lívia, do Meu conforto literário. Organizamos a leitura de Fique Comigo, da Ayòbámi Adébáyò, pelos nossos perfis no Instagram, com uma meta de 7 capítulos por semana e realizamos os encontros virtuais pela plataforma online. Eu já tinha lido o livro antes, mas nem se compara a essa experiência coletiva. Por isso, este post é para compartilhar alguns motivos para você começar a participar de uma leitura coletiva:
- Você vai ter alguém com quem falar sobre a leitura que está fazendo
Geralmente a leitura é um ato solitário – lemos no nosso cantinho e quase não encontramos alguém para compartilhar emoções que sentimos nas leituras. A vontade de encontrar pessoas para falar sobre livros foi um dos motivos que fez ter coragem de criar o Negras Escrituras também. As leituras coletivas são um lugar onde você está ali para falar da sua experiência, compartilhar suas angústias, seu ódio e amor aos personagens.
- Incentiva a ter o hábito de leitura
Sem dúvida, esse ponto é grande objetivo das leituras coletivas: incentivar o hábito de leituras. Como eu escrevi acima, o livro é dividido em metas pequenas para que todas e todos os participantes consigam acompanhar as discussões. Essa é uma oportunidade para você que coloca todo ano a leitura como meta, mas que por adversidades da vida não consegue colocá-la em prática.
- Sair da sua zona de conforto literária
Geralmente temos os nossos gêneros literários preferidos e vamos lendo por essas escolhas (e é o certo para não transformarmos a leitura em tortura). Porém, com as leituras coletivas, podemos nos permitir conhecer outros gêneros, autores e autoras que se dependessem da gente, jamais conheceríamos.
- Ver outras perspectivas sobre a leitura
Essa foi a maior experiência que eu tive relendo o Fique Comigo. O livro é cheio de reviravoltas e é narrado alternadamente pelo casal de protagonistas. Na nossa leitura coletiva, a maioria das pessoas estava lendo pela primeira vez. Somos um grupo de maioria feminina e heterogêneo com relação às nossas experiências. Na minha primeira leitura, a Fummi, personagem secundária, passou desapercebida. Inclusive, não me atentei à questão do colorismo e nos encontros iniciais, ela foi uma peça chave de discussão. Assim como na minha primeira leitura, não me atentei tanto ao debate sobre Anemia Falciforme, ponto central na vida da protagonista. Também discutimos sobre como compreender um pouco sobre questões sociais que envolvem outra cultura diferente da nossa.
A experiência de ler um texto teórico da Patricia Hill Collins foi muito interessante porque, de vez em quando, alguém não entendia um ponto e todas debatíamos juntas. Também fazíamos as conexões com outras leituras, ajudando para que todas tivéssemos compreendido os argumentos apresentados no capítulo.
- Trocar informações sobre outras obras semelhantes
Esse ponto tem tudo a ver com o primeiro e o anterior. Na conversa das leituras coletivas, sempre ocorrem indicações de outros livros semelhantes. No caso de Fique Comigo, compartilhamos várias indicações de literatura nigeriana que discutiam alguns dos fatos centrais da narrativa: maternidade, família e a mulher na sociedade.
Na leitura de Patricia Hill Collins, trocamos textos de apoio e nossas leituras acadêmicas ou não sobre o feminismo negro. Além disso, falamos sobre as tantas escritoras que são citadas pela Patricia ao longo da obra, assim como as indicações da autora de filmes e músicas.
Essa foi a minha experiência de leitura coletiva. Pretendo participar de mais algumas ainda neste ano. Espero que tenha te incentivado a buscar uma leitura coletiva, especialmente neste ano de 2020, com distanciamento social, a conexão com outras pessoas e ter esse espaço de compartilhamento de leitura pode ser uma saída.