Você sabe o que é colonialidade? Neste artigo eu vou apresentar uma definição sobre o termo e o que isso implica na nossa vida cotidiana. Os livros que utilizei como referências nesse artigo foram: Decolonialidade e Pensamento Afrodiaspórico e Memórias da Plantação de Grada Kilomba.
O que é colonialidade?
Esse termo foi cunhado pelo Grupo Modernidade/Colonialidade, que é um grupo de pensadores em sua maioria latinoamericanos. Esse grupo discutia os efeitos simbólicos e materiais do processo histórico de colonização especialmente da América Latina. Dentre os pesquisadores desse grupo vou trabalhar nesse post com a perspectiva de Nelson Maldondado-Torres, cuja área é a Filosofia.
Em seu artigo “Analítica da colonialidade e da decolonialidade: algumas dimensões básicas”, Maldonado-Torres elenca algumas teses sobre a colonialidade e decolonialidade. Aqui neste artigo usarei a segunda tese: “colonialidade é diferente de colonialismo e decolonialidade é diferente de descolonização.”
Colonialismo pode ser compreendido como a formação histórica dos territórios coloniais; o colonialismo moderno pode ser entendido como os modos pelos quais os impérios ocidentais colonizaram a maior parte do mundo desde a “descoberta”; e colonialidade poder ser compreendida como a lógica global de desumanização que é capaz de existir até mesmo na ausência de colônias formais. (MALDONADO-TORRES)
Essa lógica global de desumanização foi imposta a alguns grupos da sociedade que não estavam no padrão de humanidade: não-brancos e não-europeus. Neste artigo não cabe toda a discussão que envolve o processo histórico de colonização da América Latina e o sequestro de pessoas em África que foram escravizadas. Mas, devo destacar que foram os povos originários e os escravizados os primeiros a serem tratados como não-humanos. É a construção como o Outro, não civilizado, selvagem que, portanto, pode ser explorado de todas as formas. Dentro dessa divisão separou-se também aqueles que eram intelectuais: possuidores de razão somente os humanos e os feitos para o trabalho manual: os não-humanos, incapazes de pensar.
Essa forma de ver e categorizar a humanidade reflete até hoje nas políticas públicas e nas relações interpessoais. Pois, conforme aparece na citação a colonialidade é uma lógica de pensamento que resiste às mudanças no tempo e no espaço.
Dentro das relações interpessoais destaco os episódios de racismo cotidiano que são frutos dessa lógica que desumaniza pessoas não-brancas. Grada Kilomba no livro “Memórias da Plantação” argumenta que “o racismo cotidiano nos coloca de volta em cenas de um passado colonial – colonizando-nos novamente.” A autora faz um alerta ao longo do seu livro que o processo histórico colonial deixou marcas nas nossas vidas cotidianas e nosso psicológico.
A colonialidade está na linguagem, na forma como enxergamos o mundo e também no que acreditamos como ciência válida. Tendo em vista a distribuição do poder entre os que foram considerados humanos e não-humanos, tudo aquilo produzido por estes últimos é compreendido como não- intelectual, não-ciência. Outro efeito dessa categorização é o que chamamos de epistemicídio, uma morte intelectual e física das pessoas não-brancas. Trabalharei melhor esse conceito em outro artigo, mas deixo a sugestão de leitura da Tese da Sueli Carneiro: A construção do Outro como não ser, como fundamento do ser (2005).
Para saber mais sobre colonialidade e decolonialdiade acompanhe esse site e o instagram do Negras Escrituras. Logo sairá mais artigos que envolvem esse conteúdo.
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