Moisés Negro | Alain Mabanckou

Moisés Negro ( Petit Piment , no original) foi traduzido para o português em 2020. O livro de Alain Mabanckou, escritor franco-congolês, é um romance de formação narrado em primeira pessoa. O protagonista desta história é “Tokumisa Nzambe po Mose yamoyindo abotami namboka ya Bakoko”, em português: “Demos graças à Deus, o Moisés negro nasceu na terra dos ancestrais”.

Moisés é um adolescente órfão cuja história é afetada pelas mudanças políticas do país. O livro não faz nenhum referência a datas, mas já no começo narra a mudança política e ideológica com a Revolução Socialista no país.

Breve contexto da República do Congo:

A República do Congo tornou-se independente da França no ano de 1960, ano de várias independências africanas. O contexto mundial da Guerra Fria (que foi muito quente em África) impacta diretamente na organização política do continente. Em 1969, a partir de um Golpe de Estado , surge a República Popular do Congo, governada pelos Partidos Congolês dos Trabalhadores.  Durante esse processo há uma mudança nos símbolos, como a bandeira, uma reorganização ideológica desde a perspectiva socialista.

A Revolução se dá no cotidiano, ao modificarmos nossos hábitos e estarmos sempre atentos face à engenhosidade do imperialismo e seus criados locais. No entanto, o presidente da República foi claro sobre isso: Revolução e socialismo científico não devem nos exaltar a ponto de encontrarmos neles uma virtude mágica.

Este trecho é um parte do discurso do diretor do orfanato, no qual Moisés vive, após o início do período revolucionário. Várias mudanças com relação a convivência serão feitas no orfanato em virtude dos processo políticos e isto afetará emocionalmente o protagonista desta história.

Moisés e a descoberta de si

Eu não tinha apenas me transformado fisicamente, mas também falava como os membros do grupo e tinha, então, conseguido me livrar daquela maneira cuidadosa de me expressar que exigiam de nós em Loango.

Moisés se junta com outros adolescentes e resolve fugir do orfanato. Assim a narrativa entra na segunda fase quando o protagonista mora nas ruas em Pointe-Noire. A gangue que Moisés ajudou a fundar com os gêmeos do orfanato impunha medo aos comerciantes no mercado popular. A vida nas ruas leva Moisés a questionar muitas certezas que ele tinha do período do orfanato. Somado a isso há as ameaças que políticos e comerciantes fazem aos jovens moradores de rua. Durante este período ele conhece  Mamãe Fiat 500, proprietária de um prostíbulo, que logo o cuidou como um filho.

Os anos vão passando e Moisés vai acumulando perdas emocionais que afetam demais seu psicológico. O ponto inicial e final da narrativo é o mesmo, pois o autor tem o intuito de nos questionar quais sofrimentos são universais?

O livro tem uma narrativa bem leve, no começo até arrastada, com alguns tons de humor. Eu diria que o livro deixou a desejar na construção interna do próprio protagonista, mas que vale a leitura para quem quer conhecer um pouco de literatura africana. No posfácio o escritor Mia Couto define esse livro como “é um livro sobre todos nós, sobre tragédia e esperança do nosso mundo”.

Informações sobre o livro:

Nome: Moisés Negro
Editora: Malê/ Tag Curadoria
Ano: 2020
Número de Páginas: 223

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