O livro Os pescadores, de Chigozie Obioma, jovem escritor nigeriano, foi traduzido para o português em 2015 conta a história de 4 irmãos: Benjamin (o narrador), Obembe, Boja e Ikenna.
Quando o pai, Eme, é transferido para a cidade de Yola, os irmãos começam a aproveitar a liberdade faltando aulas para pescarem no rio, que é narrado como um lugar perigoso. Quando o pai descobre que os filhos se tornaram pescadores, castiga-os com uma surra bem pesada. A partir deste acontecimento, o comportamento dos filhos muda.
Numa ida ao rio, eles ouvem uma profecia de um louco Abulu, conhecido por anunciar tragédias. O mais velho, Ikenna, acredita na realização da profecia e então muda de comportamento, se afastando dos irmãos.
A partir disso, o livro foca na destruição interna dos indivíduos a partir das crenças. Enquanto Ikenna briga com todos, os irmãos buscam formas de se reaproximarem e a mãe procura ajuda religiosa para afastar a tal profecia. Os pescadores abordam se a profecia se torna real porque Ikenna acreditou ou porque ela realmente deveria acontecer.
Obioma mostra uma referência direta ao livro “O mundo se despedaça”, do Chinua Achebe. Então, se você já leu este livro, pode esperar algumas questões semelhantes. Além disso, vale elogiar que a escrita do autor é bem fluida. Contudo, o livro deixa a desejar em explorar profundamente os personagens. Sabemos que a família é maior, mas pouco aparecem os irmãos mais novos, bem como se explora pouco como os fatos narrados levaram ao adoecimento psíquico da mãe, assim como as emoções do pai que aparecem ao final do livro.
Como um pano de fundo dos acontecimentos da família, são apresentadas as questões conturbadas da década de 1990 na Nigéria, que envolvem escândalos de corrupção e manifestações violentas. Você também encontrará muitas referências culturais da etnia Igbo por parte dos meninos, assim como algumas comparações com os Haúças.
Um marco temporal utilizado pelo autor é a vitória da seleção nigeriana nos Jogos Olímpicos de 1996, em Atlanta, episódio que marca o clímax do livro.
Há uma crítica aos efeitos da colonialidade, pois a figura do pai representa uma admiração absurda com a educação ocidental. O pai queria que todos os filhos fizessem grandes feitos, pois estavam sendo educados com a melhor educação – aquela nos moldes europeus. Contudo, o livro aponta para o despedaçar desse sonho devido aos acontecimentos vinculados à profecia.
Depois do clímax, é uma sucessão de tragédias e o livro se torna pesado e maçante. Você fica na expectativa da redenção dos personagens, o que não acontece. Talvez eu tive expectativas frustradas por causa dos comentários que aparecem na quarta capa. Se decidir ler, não vá com tantas expectativas e o leia quando estiver bem, uma vez que é um livro bem triste.
Informações do livro:
Nome: Os pescadores
Autor: Chigozie Obioma
Tradutor: Claduio Carina
Ano: 2015
Editora: Globo
Número de Páginas: 270
Compre neste link e contribua com Negras Escrituras.